Algoritmos. Afinal, você escolhe ou é escolhido?

Redação do Enem 2018 tem como tema a “manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”.

O que aconteceria se a vida nos desse sempre o que gostamos e nos rodeasse apenas das pessoas que nos fazem sentir bem?

É isso que os algoritmos de serviços como o Netflix e Spotify tentam fazer ao analisarem o que você faz: onde mais clica, pausa, pula ou repete. O algoritmo busca saber o que você faz, do que gostou e que horas usou. Mas ainda não entende porquê, ainda…

Beleza Dani, mas tem algo ruim nisso? Se os serviços usam a informação armazenada no big data para me personalizarem uma entrega, isso não é super legal?

Claro que é, e tende a melhorar com a inteligência artificial e machine learning que pretendem abrir o diálogo e aprender junto com o usuário simulando inclusive as falhas humanas e buscando entender o porquê gostamos de X e não de Y.

Importante entender que existe um outro lado: o risco já real de criar uma bolha, de ficar em uma mesma área de recomendação, o que levaria a uniformização do gosto e das escolhas. Se você entrar num comportamento padrão, por indução das sugestões, não estaria sendo escolhido ao invés de escolher o que ouve ou assiste?

O tema da redação do Enem é atual e deveria ser esperado posto a recente luta contra o uso das fake news, capazes de influenciar campanhas políticas no mundo inteiro. A prova do Enem teve quatro textos motivadores, sendo que três deles são trechos de reportagens, uma delas eu cito bastante aqui no artigo e vou deixar o link no rodapé.

E por que é importante que os jovens entendam isso? Por que é importante que a gente entenda e discuta?

Porque se não temos noção de como as ferramentas ou serviços determinam o que iremos ver, podemos ver as coisas de uma forma tendenciosa.

Saindo dos divertidos Netflix e Spotify, passemos para serviços de informação como Facebook e Google. Em casos como estes, os algoritmos não poderiam configurar nossa maneira de pensar? E já não estão fazendo isso há alguns anos?

Acho interessante que para mim, de um ponto de vista filosófico, liberdade de escolha sempre foi uma ilusão. A gente sempre escolheu com base no que nos foi apresentado e obviamente nunca nos foram dadas todas as opções. Cultura local, classe social cultura familiar. Somos uma soma caótica das escolhas, vivências e consequências.

O algoritmo e a inteligência artificial são mais um desses filtros e eles criam uma representação do mundo que pode determinar um padrão de consumo. Mais uma vez, produtos e serviços estão sendo personalizados e te “dando” mais opções de escolha; será mesmo? Ao traçar quem você é, do que gosta e onde você está, não seriam os produtos e serviços a nos escolherem?

Assim como as gigantes empresas de serviços de tecnologia, quer sejam de entretenimento, cultura ou informação, também as indústrias de produtos e bens de consumo e até a padaria do seu bairro, estão usando a informação que sai dos teus dedos para personalizar e melhorar o desempenho de sua comunicação e consequentemente suas vendas.

Isso tudo não é novidade, é realidade dessa chamada “era pós-digital”. É que muita gente, muita mesmo, ainda não sabe que é assim. E eu acho bom que falemos mais sobre esse assunto sempre que possível. É importante que todos saibam que temos algum controle, que existem opções de privacidade e que não se deve clicar em qualquer link. 😉

Quem sabe assim chegaremos no dia de não ver mais notícia falsa e absurda nos grupos de família.

Mais importante que isso, é necessário saber que podemos e devemos furar a bolha, questionar, configurar as “timelines” e duvidar sempre.

Vem comigo?

Fonte:http://www.ihu.unisinos.br/noticias/557579-o-gosto-na-era-do-algoritmo-as-sugestoes-de-plataformas-como-netflix-e-spotify-elevam-o-risco-de-homogeneizacao-da-identidade

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